Os Dilemas da Ética (Liderança)

etica  Ele tinha onze anos e sempre ia pescar no cais próximo ao chalé da família. A temporada de pesca começaria no dia seguinte, mas ele e seu pai saíram no fim da tarde para pegar apenas peixes cuja captura estava liberada.
O menino preparou a isca e começou a arremessar. Logo o caniço vergou, e ele se deu conta que havia algo enorme na ponta da linha.
O pai olhava com admiração enquanto o menino, habilmente e com muito cuidado, retirava o peixe da água. Era o maior que ele já tinha fisgado, porém sua pesca só seria permitida na temporada que começava no dia seguinte.
Enquanto apreciavam aquela beleza de peixe, o pai acendeu um fósforo e olhou para o relógio; perto das dez horas da noite. Ainda faltavam duas horas para a abertura oficial da temporada.
Seu pai então olhou para ele, e disse:
Filho, você precisa devolvê-lo!
– Mas papai! Olha só o tamanho dele! – reclamou o menino.
– Vai aparecer outro – insistiu o pai.
– Não tão grande quanto este – choramingou o menino.
O garoto olhou ao redor e percebeu que não havia outros pescadores ou embarcações à vista. Ele então voltou novamente o triste olhar para o pai, mas não teve jeito, pela firmeza em sua voz, que a decisão era inegociável. Mesmo não havendo ninguém por perto. Com cuidado ele tirou o anzol da boca do enorme peixe e o devolveu-o ao lago, enquanto imaginava que provavelmente jamais pegaria outro peixe tão grande quanto aquele.
Trinta anos depois, o Chalé continua lá, e o menino, afora um bem-sucedido arquiteto, leva seus filhos pra pescar no mesmo cais. Sua intuição estava correta. Nunca mais conseguiu pescar um peixe tão maravilhoso como o daquela noite, porém, vê o mesmo peixe todas as vezes que se depara com uma questão ética em seu dia a dia.

Não é fácil ser ético nos dias de hoje. Existem pelo menos três dilemas que enfrentamos em nosso cotidiano: o dilema da conveniência, o dilema da “Lei de Gérson” e o dilema da relativização.
O dilema da conveniência nos leva a ter que decidir entre optar pelo mais fácil ou pelo mais correto. Desde situações simples como devolver alguns centavos de um troco que nos foi dado a mais na padaria, até situações complexas, como fazer um aborto. O que é melhor fazer? O mais fácil e conveniente, ou o mais correto? Até onde podemos considerar antiética uma mentira para encobrir um pequeno erro? Até onde posso omitir informações das pessoas que lidero? Qual é o limite das promessas para realizar ou conquistar um negócio? Para algumas pessoas, a tendência natural é decidir pelo mais fácil. Este é o primeiro dilema ético que vivemos.
O dilema da “Lei de Gérson”. Gérson de Oliveira Nunes foi um dos melhores meio-campistas da história do futebol brasileiro e sua participação foi fundamental na conquista da Copa do Mundo de 1970. No ano de 1976, Gérson participou de uma campanha publicitária dos Cigarros Vila Rica, na qual sua fala final era: Por que pagar mais caro se o “Vila” me dá tudo aquilo que eu quero de um bom cigarro? Em seguida, com um sorriso maroto, disse a infame frase que, descontextualizada, se tornou o jargão oficial dos espertalhões, das propinas e da generalizada falta de ética: “Gosto de levar vantagem em tudo, certo?”. E até hoje “levar vantagem em tudo” virou sinônimo de Gérson, e daí vem este dilema que leva o seu nome, e que representa a malandragem, a esperteza e o tão propagado “jeitinho brasileiro”.
O Terceiro é o dilema da relativização. A ética pode ser relativizada, já que pressupõe liberdade e a capacidade de avaliar, decidir e julgar com autonomia e independência. Se por um lado essa individualidade pode ser considerada positiva; por outro, pode nos levar à possibilidade de relativização da ética, permitindo que essa relatividade justifique certas atitudes, como, por exemplo: roubar é imoral e antiético, mas algumas pessoas entendem que roubar alguém que tem muito dinheiro, ou mesmo roubar um ladrão, não chega a ser antiético. Algumas pessoas também não veem nenhum problema em levar coisas da empresa para suas casas, já que a empresa é rica e ninguém vai sentir falta daquilo. O grande risco da relativização é que cada um passa a seguir seu próprio padrão ético, que pode mudar dependendo da conveniência da situação e das intenções. Ela nos leva a criar um padrão com base em nossas ações e decisões, em vez de nos conduzir a agir baseados na ética propriamente dita, induzindo-nos a pensar que aquilo que é bom pra nós, então, é naturalmente bom e ético.
Se você está achando tudo isso muito complicado, quero apresentar-lhe algo simples e poderoso: a Regra de Ouro ou Ética da Reciprocidade. Desde a Antiguidade, não se sabe ao certo quando, a Regra de Ouro é referência moral e ética, sendo utilizada por muitos pensadores, professores e filósofos como um princípio fundamental para a vida em sociedade: “Trate os outros do modo que você mesmo gostaria de ser tratado. Não faça aos outros o que você não quer que façam a você”. Simples, não é mesmo?
Ao praticar a Regra de Ouro em sua vida pessoal e profissional, o líder pavimenta a estrada que conduzirá, não apenas aos melhores resultados, mas principalmente, a resultados legítimos, que contribuem para a construção de um futuro melhor para todos! Vamos nessa?

Neste mundo, o que nos faz ricos não são as coisas que ganhamos, mas aquelas das quais abrimos mão. (Henry Ward Beecher)

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Um grande abraço,

Marco Fabossi

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Marco Fabossi é Sócio-Diretor da Crescimentum, a mais completa empresa de formação de líderes do Brasil.
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7 comentários sobre “Os Dilemas da Ética (Liderança)

  1. Bom dia, Marco.
    Tem gente que diz que a corrupção é sempre assim, que TODOS gostam de levar vantagem em tudo sempre, entre outras baboseiras.
    Para elas eu digo: não me meça pela sua régua. Desde quando todos são corruptíveis?
    Gente assim é aquela que fala:
    – Vamos pegar só mais um. Afinal, não tem ninguém olhando mesmo.
    – Acontece que EU estou olhando!
    E sobre levar as coisas da empresa: uma caneta, um caderno, coisas pequenas… e se todos resolvessem pegar?
    – Mas é baratinho, uma caneta só…
    Aí o dono da empresa descobre as várias gangues dentro da empresa: a da caneta, a do café, do papel higiênico, do grampo do grampeador, da folha A4… Ou seja, estão montando um home office sem o dono saber. Alguém paga a conta e depois tem funcionário que reclama que o bônus não veio…
    E a confiança?! É apenas um verbete que conta no dicionário?
    Luto para que não seja só isso.
    Sucesso sempre!

    • Daniel, obrigado pelos comentários. Nosso papel é ajudar nessa conscientização. Vamos em frente! Abraços,

  2. Muito bom este texto, deveríamos andar com ele colado em nossa testa para não nos esquecermos de nada, pois a cada minuto em nossa vida uma situação aparece.

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